segunda-feira, 4 de julho de 2011

No jogo das fraudes, damas dão as cartas.

Primeiras-damas de Taubaté e Campinas são denunciadas por formação de quadrilha e corrupção.

CAMPINAS e TAUBATÉ (SP). 

Autoritárias, centralizadoras e ciumentas. Assim funcionários públicos e políticos definem as primeiras-damas de Taubaté (SP), Luciana Peixoto, de 58 anos, e de Campinas (SP), Rosely Nassim Jorge Santos, de 66 anos. Na avaliação do Ministério Público do Estado e da Polícia Federal, de "damas" elas não têm nada: foram denunciadas por formação de quadrilha, corrupção e fraudes em contratos públicos. Ambas exerciam cargos na administração dos maridos, prefeitos de duas das mais importantes cidades do interior de São Paulo e que recentemente tiveram mandados de prisão decretados pela Justiça.

A primeira-dama de Taubaté, Luciana Peixoto, ficou três dias na cadeia. Já Rosely permaneceu foragida por cinco dias até conseguir revogar a ordem de prisão. Após as denúncias, elas abandonaram a vida social. Praticamente não saem de casa nem para irem ao cabeleireiro e se negam a dar entrevistas.

A primeira-dama de Taubaté foi presa em casa ao lado do marido, o prefeito Roberto Peixoto (PMDB), no último dia 21 pela Operação Urupês, da Polícia Federal. Ela é suspeita de desvio e malversação de verbas federais para merenda escolar.

Na prefeitura, Luciana continua como presidente do Fundo Social de Solidariedade de Taubaté. Também comandou o DAS (Departamento de Ação Social), do qual foi exonerada em janeiro de2009 por determinação judicial. Ela é professora do ensino fundamental e exercia a profissão até entrar na administração. Há alguns anos, Luciana começou a pedir a amigos e à imprensa local que a chamassem de "Lu Peixoto".

- Parece que ela se inspirou na Lu Alckmin (primeira-dama do Estado) para alterar o nome - brinca a vereadora de oposição Pollyana Gama (PPS), da comissão que pode provocar o impeachment do prefeito.

Em Campinas, a primeira-dama Rosely Nassim Jorge Santos exercia, até o mês passado, o cargo de chefe de gabinete do prefeito Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio (PDT). Ela é conhecida na prefeitura como "a doutora", e é tratada assim nas conversas telefónicas interceptadas na investigação da PF.

Médica pediatra, teve a prisão decretada em Junho e permaneceu foragida, assim como o vice-prefeito Demétrio Vilagra (PT). Rosely é apontada pelo Ministério Público como chefe de um esquema de fraudes em contratos de obras e serviços públicos. Mãe de três filhas, ela e o prefeito Dr. Hélio, que não foi envolvido nas fraudes, também médico, são casados há quase 40 anos. Eles se conheceram na Faculdade de Medicina da Unicamp.

Relatório do Ministério Público aponta que "o núcleo de corrupção da Sanasa (empresa de saneamento da cidade) foi instalado no início de 2005, tão logo a senhora Rosely assumiu a chefia de gabinete da Prefeitura". Em depoimento na Justiça, o delator do suposto esquema defraudes, Luiz Augusto de Aquino, afirmou que entregava dinheiro de propina "em mãos" e "em espécie" a Rosely. Em algumas ocasiões, segundo ele, o dinheiro era deixado no próprio gabinete da primeira-dama, no 4º andar da prefeitura, ao lado do gabinete do prefeito.

Rosely foi exonerada no mês passado após seu nome aparecer nas investigações. Ela nega as acusações. Seu advogado, Eduardo Carnelós, foi procurado, mas não retornou. Em declaração anterior, classificou as acusações como "imorais".

Procurados, o prefeito e a primeira-dama de Taubaté indicaram o secretário de governo da prefeitura, Adair Loredo, para falar. Loredo negou as acusações contra o casal e disse que a abertura de processo de impeachment "não é cabível".

(*) Especial para O GLOBO

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