domingo, 18 de agosto de 2013

Obras fantasmas e mau uso do dinheiro público dificultam a vida de sertanejas

Maria de Oliveira Ribeiro, cidadã de Novo Horizonte-PI -
(Foto: Lírian Pádua)

Por Lírian Pádua*

A 12ª “Marcha Contra Corrupção e Pela Vida” continua a caminhada pelas cidades do sertão do Piauí. Na semana passada, os voluntários fiscalizaram obras e ministraram aulas de cidadania nos municípios de Jurema, Anísio de Abreu, São Braz e São Raimundo Nonato. Além dessas cidades, a marcha também passou por diversas comunidades e, em cada local visitado, foi constatado o gravíssimo problema de falta de água, saneamento básico e a mínima estrutura para a sobrevivência e desenvolvimento da população do semiárido. Apesar da dificuldade, tivemos a oportunidade de conhecer um povo forte, e, principalmente mulheres que não medem esforços para sobreviver.

Além dos obstáculos da vida, a aposentada Aldenira da Rocha Oliveira, 66, também sofre com a corrupção na comunidade Caldeirãozinho, na cidade de Jurema. De acordo com informações da Funasa, Aldenira foi contemplada com uma obra de melhorias sanitárias. Assim como ela, no projeto da fundação, outras 80 casas deveriam receber banheiros. Porém, muitos moradores sequer receberam a visita de um funcionário do governo para fazer as medições e dar início às obras, mas nas documentações da Funasa o banheiro de Aldenira está pronto para uso.

“Nunca fizeram esse banheiro em casa. Há alguns anos meu marido teve câncer de próstata e eu mesma precisei construir o banheiro”, contou Aldenira. Hoje viúva, a aposentada trabalha na roça para complementar a renda de casa. “Caminho uma légua todos os dias até a plantação. Neste ano, não produzimos nada por causa da seca, mas mantemos a esperança”, disse.

A confiança de Aldenira também se estende ao um governo melhor através da conscientização da população. “Não vendo meu voto. Eu voto é por benefícios na nossa cidade. Não gosto de ver coisa errada, por isso digo que votar é uma obrigação dos honestos”, enfatizou.

No povoado de Novo Horizonte, município de São Raimundo Nonato, o mau uso dinheiro público dificulta a vida de Maria de Oliveira Ribeiro, 81, que também vive sob uma situação climática extrema do semiárido brasileiro. “Essa é a pior seca que estou enfrentando”, lamentou.

O sofrimento de Maria poderia acabar se ela recebesse água da adutora que fica em frente a sua casa. A obra custou mais de R$ 1,5 milhão e era prevista para atender cerca de mil famílias, num raio de 80 quilômetros, porém nenhuma água passa pelos canos. “Dentro da caixa não tem mais água, só ar”, disse Maria.

Segundo ela, após a obra ser concluída, em 2011, as caixas enchiam de água e até transbordava. “Formava um rio em frente de casa, mas a água não passava pelos canos para chegar a outras famílias”, contou a aposentada.

Hoje, com adutora sem funcionar e as caixas de água vazias, Maria aguarda a cada três meses a vinda de um caminhão pipa. Recebendo uma média de 10 mil litros por vez, ela e toda a família têm pouco mais de 100 litros de água para utilizar durante o dia. “Essa água é só para beber, cozinhar e escovar os dentes. Não temos para as plantas e animais”, contou.


*Lírian Pádua é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalista e voluntária da ONG BATRA - Bauru Transparente, integrante da Rede AMARRIBO Brasil.

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