Na cidade o clima deixa transparecer a incerteza. Enquanto parte das pessoas evita falar com medo de represálias, outros se mostram desoladas com a situação política do município de 51 mil habitantes.
Produtos apreendidos pela Justiça, que segundo o promotor, seriam usados para compra de votos.
Na sede do Executivo Municipal de Trairi, a 124 quilômetros de Fortaleza, o gabinete onde deveria despachar um prefeito está vazio há quatro dias. Nas paredes azuis que cercam a sala, nada mais há, além de pregos que não têm o que sustentar. Ali, eram pendurados certificados e fotos que denunciavam a vaidade do então prefeito Josimar Moura Aguiar (PRB), o Mazim, afastado do cargo na última quarta-feira, suspeito de ter desviado R$ 19,6 milhões dos cofres do Município.
“Até a foto que tinha com o Lula (o ex-presidente) ele pediu para tirar. Aqui, era cheio de retrato da família dele”, contava, desolada, a secretária do gabinete, Marilene Rodrigues. Há seis anos, ela trabalha ali. Durante esse tempo, nunca tinha visto na cidade algo parecido com a situação vivida hoje pela pequena Trairi. Após o afastamento do prefeito, todos os líderes do município que poderiam assumir a gestão foram presos por suspeita de compra de votos: vice-prefeito, presidente da Câmara e procurador-geral. O próprio prefeito não se encontra na cidade.
Hoje, a cidade de 51 mil habitantes se divide da seguinte forma: metade da população tem medo de falar com a imprensa; a outra metade, está desolada. “Eu estou envergonhadíssimo. Tenho 67 anos de vida e nunca pensei que ia ver Trairi passar pelo que está passando. A cidade está abandonada”, lamentava o comerciante Inácio Correia, de 67 anos.
Aos 16 anos, a estudante Carolina da Silva já não sabe se vai votar nessas eleições. Ela, que conta gostar de política, se diz tão decepcionada com os gestores de Trairi que tem medo de votar em alguém que possa decepcioná-la. “Eu já nem sei em quem votar. Não sou obrigada. Acho que não vou dar meu voto é pra ninguém”, desabafou.
Ontem, o promotor de Justiça da Cidade, Igor Pinheiro, entrou com pedido de impeachment do prefeito Mazim. A decisão final caberá à Câmara Municipal, que deverá deliberar sobre o caso na próxima segunda-feira, mesmo dia em que será eleita a nova Mesa Diretora do Legislativo Municipal. O vereador que assumirá a presidência da Câmara irá sentar-se na cadeira de prefeito.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Ação conjunta entre a Polícia Federal e o Ministério Público detectou crimes eleitorais e contra a administração pública de Trairi entre os anos de 2010 e 2012. As diligências continuam no sentido de coibir mais crimes.
raquelmaia@opovo.com.br
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